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Palacete do Visconde de Vilar de Allen – Lordelo do Ouro – Porto

Posted by mjfs em Fevereiro 23, 2009

 Palacete do Visconde de Vilar de Allen

Foi mandada construir, nos últimos anos da década de 1920, pelo 3º Visconde de Villar d’Allen para sua residência, coincidindo com uma época em que o Porto assistia ao surgimento de uma série de palacetes, que imprimiram à cidade uma marca burguesa. Com ligações à Casa Ramos Pinto (através de laços matrimoniais e comerciais), Joaquim Ayres de Gouveia Allen, engenheiro de formação e cônsul da Bélgica no Porto, é definido como um “misto de aristocrata e capitalista”. O projecto para a sua casa de habitação foi concebido pelo arquitecto José Marques da Silva (1869-1947).

Os primeiros desenhos estavam concluídos em Abril de 1927, mas o casal Allen foi introduzindo múltiplas alterações ao projecto inicial que, de forma genérica, se prendiam com o hall de distribuição do espaço interno e com a localização da capela, que se pretendia de acesso directo ao exterior, sendo que todas estas questões acabaram por se reflectir na própria concepção das fachadas, também sucessivamente alteradas. Na sua Dissertação de Doutoramento, António Cardoso analisa este programa, considerando o Petit Trianon, de Versalhes, como o modelo principal da Casa Allen, numa escolha cuja responsabilidade imputa ao encomendador, e da qual resultou uma “imagem mitigada e adulterada de um Petit Trianon, agora portuense, numa linguagem academizante e involutiva”.

A planta estrutura-se em torno do hall central, a que se acede através da fachada principal, virada para a rua, e da fachada Sul, cuja monumentalidade acaba por inverter a importância dos alçados, quase anulando o principal. A capela abre-se no alçado Norte, que se articula em três corpos diferenciados.

Ambas as fachadas, de aparelho rusticado, caracterizam-se pela simetria na abertura dos vãos, pelos remates em platibanda, que quase cobrem o telhado, e pelos pórticos, numa linguagem de cariz neoclássico. De acordo com António Cardoso, reside na concepção destes alçados, de leitura equívoca em relação ao interior, uma das novidades do projecto: “a suposta ambiguidade das fachadas significava, afinal, a sua visão totalizadora, uma nova concepção do projecto, e uma nova forma de abordagem”. Os jardins, que aproveitam três frentes da casa, distribuem-se da seguinte forma: na entrada e na área lateral Sul, respeitam um esquema racional, e na zona posterior invocam a influência inglesa.

Naturalmente, os projectos para habitações particulares revestem-se de algumas pré determinações, impostas pelos proprietários; facto de grande significado para a análise e contextualização da obra. No que respeita à Casa Allen encontramos vários destes particularismos e, quer de um ponto de vista da integração do edifício no conjunto de obras de Marques da Silva, quer num contexto da própria cidade, a verdade é que o imóvel acaba por se salientar, reflectindo o gosto do seu encomendador. De facto, os eclectismos, e neste caso, os de sabor neoclássico, prolongaram-se, no nosso país, até à década de 1920 mas, de acordo com António Cardoso, a marca ecléctica e neoclássica da Casa Allen constituiu uma expressão academizante no conjunto da obra de Marques da Silva. Por outro lado, nestes anos 20, o imóvel é quase uma excepção na própria dinâmica de opções arquitectónicas da cidade do Porto. Muito embora possamos encontrar pontos de contacto com a Casa de Serralves, do mesmo autor, as linhas art déco desta última assumem-se como um dos mais significativos exemplos desta estética no nosso país, afastando-se dos modelos da Casa Allen. Em todo o caso, não deixa de constituir um importante marco arquitectónico e urbanístico da cidade do Porto.

Mais recentemente, em 1991, foi construída, nos seus jardins, a Casa das Artes, projecto do Eduardo Souto Moura (com data de 1980). A qualidade desta arquitectura, com as características fachadas cegas deste autor, mas abrindo-se para a cidade com a fachada em vidro, a Norte, mereceu a Souto Moura o Prémio Secil.

Fonte: (RC) / IPPAR

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