(Foto: José Manuel Tomé Aldeano 2006 / IPAR)
Possivelmente edificado entre os séculos III e IV d. C, o circuito muralhado que definia os limites de Pax Iulia integrava outras estruturas inerentes, como no caso específico do “Arco”, ou, como também é conhecido localmente, da “Porta de Évora”.
O “Arco” encontra-se entre uma das torres que ladeiam a muralha do castelo de Beja e um dos troços da amurada que envolvia esta mesma localidade. Ao que tudo indica, a sua principal funcionalidade consistia em dar acesso à barbacã que rodeia a torre de menagem, localizada a Oeste deste mesmo recinto. De realçar será o facto de ainda passar sob este “Arco” um troço da antiga calçada romana, realizada com lajes de consideráveis dimensões.
Em termos arquitectónicos, estamos perante um “Arco” de volta perfeita com grandes aduelas e impostas molduradas. Quanto aos seus pés direitos, eles são constituídos por blocos de cantaria aparelhada. Um dos aspectos mais interessantes a sublinhar, será, no entanto, a presença de uma máscara humana esculpida no seu cimo, envolta numa moldura boleada. Segundo alguns autores, o “Arco” apresentava ainda outros motivos decorativos, com especial referência para a presença de três águias esculpidas em material pétreo, uma das quais em baixo relevo, e as outras duas em alto relevo, na zona dos seus respectivos cunhais. Todos estes componentes escultóricos podem ser observados no Museu da Cidade, onde se encontram expostos.
Actualmente, o “Arco” encontra-se integrado no castelo medieval, ou seja, no exterior da alcáçova. Com efeito, este elemento sofreu algumas vicissitudes ao longo dos séculos, das quais destacamos a edificação de uma segunda “porta” mais ampla em finais do século XVI, situada entre a “porta” romana, propriamente dita, e o Hospital da Misericórdia, o que implicou a total demolição do “Arco” romano. Contudo, esta mesma segunda “porta” foi também destruída em 1893, ao entender-se que a sua presença naquele local dificultaria o normal fluxo do trânsito. Chegado o ano de 1938, decidiu-se reconstruir o “Arco” com os vestígios que ainda subsistiam, e que constavam de diferentes fragmentos entretanto reutilizados pelas gentes locais, quer na construção de quintais, como de diferentes residências.
Para além deste “Arco”, funcionaram até ao século XIX as denominadas “Portas” de Aviz, de Mértola e de Aljustrel, onde terminavam as vias romanas que ligavam Pax Iulia às localidades de Évora e de Faro.
(Fonte: A Martins /IPPAR)
Mais informação em 12/12/08:
A cidade de Beja foi durante o período romano a sede de uma colónia denominada PAX IVLIA, grande centro agro-pecuário e mineralífero do sudoeste peninsular. O seu convento juridico compreendia, grosso modo, quase todo o território situado entre o Tejo e o Algarve, constituindo, portanto, uma das principais sedes em que se dividiu a Lusitânia, com a capital em Mérida (Espanha) e outro convento mais a norte, também situado no actual território português, Scalabis (Santarém).
São testemunho monumental da magnífica cidade pacense (de Pax Julia) dois arcos romanos. Um deles, intacto, junto à Torre de Menagem e Álcaçova do castelo, denominado de Portas romanas de Évora, ainda conserva o “opus quadratum”, aparelho caracteristico de blocos marmóreos paralelipipedicos e regulares. É o único portal do género “in situ” em Portugal. O outro, situado para nascente, no extremo de um interessante troço a descoberto da fortificação bejense,junto ao Terreirinho das Peças, denominado de Avis, foi demolido em 1895 e reconstruído, ainda com os elementos originais sobre as antigas fundações, em 1939. Há dois anos, em Outubro de 2006, divulgámos no jornal Diário do Alentejo as estruturas do que parece ser uma outra porta romana, no troço amuralhado junto à rua Capitão João Francisco de Sousa, hipótese que a seu tempo as prospecções arqueológicas hão-de julgar. Nas ruas dr. Brito Camacho e das Portas de Mértola foram demolidas, respectivamente no período medieval e em 1876, outras duas portas romanas.
É de salientar a diversidade temporal e estilistica dos edificios pacenses observável nos grandes e raros capiteis jónicos, corintios e compósitos, fustes, cornijas e frisos, estatuária e epigrafia. A própria muralha de Beja, de fundação romana, apresenta ainda 27 das 48 torres que possuía no final do século XIX, para um perímetro aproximado de quase 2km.
É verdade. Beja tem um património cultural invejável, desde a Idade do Bronze, passando pela Idade do Ferro (e do testemunho da sua muralha, de perímetro menor do que a romana e medieval), pelo romano, visigótico (o melhor museu do país), e medieval português, monumentos ímpares do manuelino, renascimento, maneirismo e barroco. Merece uma visita atenta e despreconceituada.
(Texto cedido pelo Sr. Leonel Barrela)