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Património de Portugal

Archive for the ‘Igrejas e Capelas’ Category

Capela de São Martinho – Vilar do Paraíso – Vila Nova de Gaia

Posted by mjfs em Março 19, 2009

 Capela S Martinho - Vilar do Paraiso - Vila do Conde - www.monumentos.pt

A capela de São Martinho, situada numa pequena colina e rodeada por um adro arborizado, constituiu um dos mais importantes locais de culto da muito remota freguesia de Vilar do Paraíso.

A sua história é, no entanto, pouco conhecida. Não se sabe em que data foi edificada, mas a sua origem recua ao século XIV, época em que foi paroquial. A frontaria, barroca, remonta, muito possivelmente, à primeira metade do século XVIII. Nas Memórias Paroquiais de 1758 refere-se a existência de uma ermida dedicada a São Martinho “situada num monte no meio da freguesia”, mas nada mais se acrescenta sobre o edifício. As restantes informações, acrescentadas pelo autor da transcrição, Francisco Barbosa da Costa, apenas dizem respeito às imagens que, em 1983, se veneravam na capela. No altar-mor encontrava-se a representação do padroeiro, São Martinho, acompanhado por São Miguel. Nos restantes altares, Santa Rita, Santo António, Santa Teresinha, Nossa Senhora das Dores do Sagrado Coração de Jesus, Nossa Senhora de Fátima e do Menino Jesus de Praga.

Já na década de 1990, a igreja foi objecto de uma profunda alteração, conservando-se apenas a fachada setecentista e a nave, pois os restantes volumes (capela-mor e sacristia) foram demolidos com o objectivo de ampliar o espaço da capela.

Assim, o elemento mais significativo deste conjunto é o alçado principal, revestido por azulejos de padrão azuis e brancos, contemporâneos, e flanqueado por pilastras, encimadas por pináculos. Ao centro, abre-se o portal, ladeado por duas janelas rectangulares, e encimado por frontão de aletas, interrompido por uma vieira. Sobrepõe-se-lhe um óculo quadrilobado e, sobre a empena, a torre sineira.

 

Texto: (Rosário Carvalho) / IPPAR

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Igreja Matriz de Martim Longo – Faro

Posted by mjfs em Março 14, 2009

 Igreja Martim Longo

A matriz de Martim Longo é um templo edificado na viragem para o século XVI. De acordo com as Visitações da Ordem de Santiago, a quem o território estava confiado, sabemos que, em 1518, a igreja estava praticamente terminada, faltando apenas edificar o campanário e estando a capela-mor "derribada". Esta última informação faz supor que a campanha construtiva que então se verificava correspondia a uma reforma de um edifício anterior, pois o mais comum era iniciar-se a edificação pela cabeceira. Disso mesmo dá testemunho a mesma Visitação, quando refere que a igreja foi feita "de novo", pelos "moradores desta alldea de Martim Longuo" e "aa sua custa" .

Na avaliação do templo, temos, portanto, que o corpo é a parte mais antiga. Ele compõe-se de três naves de quatro tramos, marcados por colunas que suportam arcos formeiros apontados, sendo a nave central mais alta que as restantes. O facto de os capitéis serem oitavados prova o marco cronológico tardo-gótico, que nos parece ainda mais conotado com a linguagem quatrocentista que com a do ciclo manuelino, faltando aqui a exuberância decorativa deste último. O próprio portal principal revela essa longa duração artística, na medida em que é de perfil quebrado composto por ligeira moldura interna que descarrega sobre um único colunelo adossado à caixa-murária.

A capela-mor, por ser mais tardia, integra-se já num outro complexo artístico. A Visitação de 1518 assegura que ela seria edificada à custa do Bispo e Cabido de Silves. No entanto, em 1534, em nova Visitação, a cabeceira ainda se encontrava "derrubada" e só o campanário estava terminado. Só vinte anos depois, em 1554, a obra se completou e foi possível erguer uma capela-mor de dois tramos, coberta com abóbada presumivelmente de cruzaria de ogivas, com bocete central, a que se acedia através de um arco triunfal "de ponto". Desta campanha, resta a arquitectura, uma vez que o recheio se perdeu. Pela Visitação de 1565, a última efectuada a esta aldeia, sabemos que o retábulo-mor era de madeira dourada e que continha cinco painéis que enquadravam a imagem tutelar da igreja, uma Nossa Senhora de vulto .

Nos inícios do século XVI, a parede fundeira do corpo, que ladeia o arco triunfal, era decorada com várias pinturas murais, de que restam ainda algumas parcelas. Elas não foram mencionadas em 1518, mas em 1565 já se diz que "na parede do cruzeiro está pintada a imagem do crucifixo e a de Nossa Senhora e a de São João e outros Santos, já velho tudo e mui despintado". Por esta descrição, vê-se que o Painel do Calvário, que seria ladeado por outras representações, era antigo e denunciava já grande desgaste. Ainda no interior, importa salientar a pia baptismal, manuelina, cuja bacia cilíndrica repousa sobre base decorada com carrancas.

Mas é, sem dúvida, no exterior, que reside uma das mais importantes características do templo: a série de torreões cilíndricos que amparam o edifício pelo lado Sul. A torre de maior secção é parcialmente ocultada pela torre sineira, o que permite supor tratar-se de uma pré-existência em relação à obra dos inícios do século XVI. Já se aventou a hipótese de se tratarem de vestígios de uma hipotética mesquita, mas nada se pode assegurar e é mais credível, no momento actual, atribuí-los a uma fase construtiva tardo-gótica conotada com o mudejarismo meridional, que, presumivelmente, não englobaria a torre sineira, sendo esta resultado de uma intenção posterior.

O templo foi objecto de algumas obras ao longo dos séculos, em particular o janelão rectangular do segundo registo da frontaria (edificado após estragos causados pelo Terramoto de 1755), e o retábulo-mor barroco, mandado fazer pelo Bispo D. Francisco Barreto II em 1581, e suprimido já nos nosso dias. EM 1968, encontrava-se em estado de ruína, procedendo-se, então, a um amplo restauro, a cargo da DGEMN, que conferiu ao conjunto o seu aspecto actual.

Igreja Martim Longo

Texto: PAF / IPPAR

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Igreja de Paderne – Melgaço – Viana do Castelo

Posted by mjfs em Março 10, 2009

 

Igreja de Paderne

A história da igreja românica de Paderne é particularmente complexa, em especial a que se relaciona com as suas origens. Na primeira metade do século XII, o local foi sede de um mosteiro feminino, comunidade a que D. Afonso Henriques passou carta de couto (1141), em agradecimento pelo auxílio das monjas na tomada do castelo de Castro Laboreiro. Outras fontes asseguram que o primitivo cenóbio foi sagrado em 1130 , mas a verdade é que pouco ou nada sabemos acerca dessa primeira instalação.

Dois elementos em calcário – um fragmento de friso e um capitel – (que claramente nada têm que ver com a construção em granito do século XIII), parecem ser os únicos vestígios da igreja do século XII. Este último é especialmente importante, uma vez que se trata do único capitel historiado do conjunto. Representando a Descida de Cristo aos limbos, onde resgata um homem da boca de um monstro, seria "provavelmente a escultura mais representativa" dessa igreja, cuja relevância simbólica e artística fez com que fosse reaproveitado, em lugar de destaque, na construção do século XIII: o "ângulo nordeste do cruzeiro" .

Se as origens de Paderne são, assim, uma enorme incógnita – existindo mesmo autores que negam a existência de vestígios materiais do século XII , o processo de transferência do mosteiro para as mãos dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho é igualmente enigmático. Sabemos que eles já habitavam o local em 1225 e que, anos mais tarde, a comunidade era orientada pelo prior D. João Pires, homem a quem se atribui um papel importante na construção da igreja que actualmente existe. Com efeito, foi no seu tempo que se concluíram as obras e se sagrou do novo templo, cerimónia que teve lugar em 1264, conforme inscrição colocada à esquerda do portal principal.

De um ponto de vista planimétrico, a solução empregue neste mosteiro é única entre nós, na medida em que, a uma cabeceira tripartida, quadrangular, corresponde apenas uma nave, relativamente curta; paralelamente, a noção de espaço longitudinal é quebrada pela existência de um desenvolvido transepto, cujo braço Norte integra um portal virado a poente. Praticamente todos os autores que se dedicaram a este conjunto manifestaram a sua estranheza quanto à existência deste portal e quanto às suas grandes dimensões. A semelhança desta opção para com a de outros mosteiros galegos foi já notada, mas a sua funcionalidade permanece por explicar. A hipótese mais consensual é a que o relaciona com um conteúdo funerário, pois diante de si, inscrita na parede virada para este recanto, existe a única inscrição funerária medieval do conjunto, identificadora de um enigmático R. Garcia, com grande probabilidade o mestre responsável pela reforma da igreja.

Do final dessa campanha data o portal principal, uma obra considerada já proto-gótica e realizada sob a distante influência da arte de Mestre Mateo de Compostela. Este facto, a par das características dominantes da escultura do interior – realizada à base de uma "decoração vegetal simplificada e pouco volumosa", provam a construção tardia do monumento e o seu afastamento estilístico em relação ao rico foco de influência galega (em particular tudense) da segunda metade do século XII e primeiros anos do XIII, que tão bem caracteriza as igrejas de Ganfei, Longos Vales e Friestas.

Ao longo dos séculos, foram escassas as alterações por que o conjunto passou. A principal reforma aconteceu no século XVIII, numa empreitada modesta que pretendeu actualizar esteticamente o interior do templo, através da colocação de um retábulo-mor, de painéis de azulejos e de um órgão. No século XX, as diversas fases de restauro incidiram mais sobre os telhados e os pavimentos, sem alterarem significativamente a estrutura original medieval.

Texto: PAF / IPPAR

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Capela de Nossa Senhora da Graça – Junqueira – Vila do Conde

Posted by mjfs em Fevereiro 16, 2009

 capela senhora da graça - junqueira - vila do conde - foto jf-junqueira

A igreja da Senhora da Graça pertencia ao domínio do antigo Mosteiro de São Simão da Junqueira, tendo sido edificada na sequência da reconstrução da própria igreja do mosteiro, no último quartel do século XVII. De facto, esta casa esteve, durante o século XVI, sujeita ao regime comendatário que, à semelhança do que aconteceu um pouco por todo o país, prejudicou fortemente a economia do mosteiro. Assim, foi somente após a fim deste regime que as instituições religiosas recuperaram a sua autonomia e iniciaram uma dinâmica de actualização estética e decorativa, na qual a construção da capela da Graça se inclui.

Esta, encontra-se implantada num local ajardinado, com um muro em seu redor. É antecedida por um alpendre, delimitado por um parapeito e assente sobre colunas dóricas. A fachada principal é aberta por portal com o ano de 1713 epigrafado (data que deverá determinar o final das obras), e um óculo na zona superior. Os diferentes volumes são definidos por cunhais, sobre os quais se projectam pináculos de remate esférico e, sobre as empenas, uma cruz assente num plinto.

A austeridade exterior contrasta fortemente com o interior, principalmente ao nível da capela-mor, onde a talha dourada reveste a totalidade do espaço – tecto é em caixotões, as paredes organizam-se em molduras, e o retábulo, de remate polilobado, enquadra uma imagem de cada lado da tribuna. Na nave, as paredes apresentam revestimento azulejar de padrão, tecto de caixotões policromados e os altares exibem retábulos de talha dourada.

Nesta medida, verificamos como a capela de Nossa Senhora da Graça se enquadra no contexto setecentista nacional, onde prevaleceu a utilização conjugada do azulejo e da talha dourada, num espaço interior cenográfico e brilhante, muito diferente da sobriedade verificada no exterior.

Texto: (Rosário Carvalho) / IPPAR

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IGREJA E EDIFÍCIO DA MISERICÓRDIA DE VILA DO CONDE

Posted by mjfs em Fevereiro 7, 2009

IGREJA E EDIFÍCIO DA MISERICÓRDIA DE VILA DO CONDE - foto cmviladoconde 

Embora o compromisso da sua fundação date de 1499, a irmandade da Misericórdia de Vila do Conde foi fundada em 1510. A confraria instalou-se numas casas contíguas à capela do Espírito Santo, tendo decidido em 1522 edificar uma igreja para a irmandade, com respectiva casa do consistório e hospital.

O terreno onde iria ser edificado o templo foi doado por Álvaro Fernandes da Rua e sua mulher, localizando-se na área fronteira ao velho hospital de Vila do Conde. No entanto, as obras da Casa da Misericórdia só se iniciaram em 1559, depois de demolida a capela de São Miguel o Anjo, situada nesse mesmo terreno.

O conjunto edificativo existente, composto pela igreja e pela casa do consistório, apresenta um modelo maneirista, de linhas sóbrias e depuradas. A igreja, de planta rectangular é precedida por escadaria, com portal principal de moldura rectangular ladeado por dois pares de colunas jónicas, num modelo de inspiração serliana, encimado por um conjunto de imagens de vulto, o da esquerda representando Nossa Senhora da Conceição, o da direita figurando a Visitação. A fachada é rematada em empena.

O interior da igreja, de nave única, é revestido por painéis de azulejo de padrão, fabricados na oficina lisboeta de Domingos Francisco e colocados em 1692, no mesmo ano em que foi construído o coro e os caixotões de madeira do tecto, pintados com motivos florais. Os retábulos colaterais, executados em 1662, estão separados da nave por uma grade de pau preto, e decorados por um conjunto de pinturas executado entre 1663 e 1666.

No século XVIII a igreja sofreu algumas alterações na sua estrutura interior. Nos anos de 1743 e 1744 os irmãos patrocinaram a edificação de uma tribuna, desenhada pelo arquitecto Nicolau Nasoni e decorada com talha, da autoria do mestre Manuel Rocha, e encomendaram um novo retábulo-mor, de talha barroca, possivelmente obra do mesmo mestre.

O edifício do consistório, onde terá funcionado também o hospital da irmandade, desenvolve-se em planimetria quadrangular, estando dividido em dois pisos. A fachada, também precedida por uma escadaria, possui portal de moldura rectangular, ladeado por dois janelos. No segundo registo foram abertas três janelas de sacada, duas de moldura rectangular encimadas por friso, semelhantes à porta, outra com arco conopial, de gosto manuelino. Esta moldura, de execução anterior à edificação da casa, poderá ter sido aproveitada da capela situada neste local, demolida para dar início à construção da Misericórdia. A sineira da igreja foi colocada sobre a fachada do consistório.

 
Texto: Catarina Oliveira / IPPAR/2005

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Capela do Socorro – Vila do Conde

Posted by mjfs em Fevereiro 3, 2009

 Capela do Socorro - Foto PauloPVZ

Situada junto ao rio, a capela do Socorro destaca-se pela configuração dos volumes que a compõem, e por se encontrar num plano ligeiramente mais elevado, limitado por um murete, a que se acede através de uma pequena escadaria. Este templo insere-se no conjunto de ermidas e capelas de planta centralizada, que surgiram no nosso país no decorrer do século XVII, em maior número na região de Aveiro e Coimbra. Contudo, e ao contrário do que aconteceu em boa parte dos exemplos subsistentes, em Vila do Conde foi utilizado um modelo de planta quadrada, coberto por uma abóbada semi esférica, de grandes dimensões.

A cornija, que remata o corpo quadrangular, exibe uma série de elementos de granito que decoram e animam o volume inferior e, no extremo esquerdo do alçado Norte, uma sineira. A entrada é definida, nesta fachada, por um vão de arco perfeito em granito.

Trata-se de uma edificação seiscentista, erguida no início do século XVII, mais precisamente, em 1603, a expensas do piloto-Mór da Carreira da Índia, Gaspar Manuel, e sua mulher, como atesta a inscrição existente no portal. É possível que o casal tenha patrocinado a construção deste templo com o objectivo de criar um mausoléu, onde ambos pudessem ser sepultados, o que veio a acontecer sete anos depois, em 1610, data em que faleceu Gaspar Manuel. A sua campa (e a sua mulher), rasa mas com brasão de armas e inscrição, mantém-se no interior do templo.

Todavia, neste espaço, é o conjunto azulejar barroco e o retábulo-mor, de talha branca e dourada, de gosto rococó, que se revestem de especial importância, emprestando à capela uma dinâmica e cenografia, próprias de uma época posterior à da sua edificação. Os azulejos encontram-se divididos em dois níveis, muito possivelmente executados em épocas distintas e por artistas diferenciados. Assim, no inferior observam-se cenas de paisagens enquadradas por anjos de grandes dimensões, a que se sobrepõem cenas da vida da Virgem: Adoração dos Magos, Fuga para o Egipto, Jesus entre os Doutores, Apresentação da Virgem, Casamento de Nossa Senhora, Anunciação e Adoração dos pastores. Os painéis figurativos foram atribuídos por Santos Simões ao Mestre P.M.P., o pintor de azulejo activo no primeiro quartel do século XVIII, mas do qual se desconhece o nome. Este, pertence ainda ao denominado “ciclo dos grandes mestres”, revelando a ascendência dos Oliveira Bernardes, mas desenvolvendo a sua obra num sentido mais ingénuo e menos erudito. Nos estudos e biografias relativas a este pintor, José Meco tem vindo a manter os azulejos da capela do Socorro no acervo pictórico do Mestre P.M.P., mas sem avançar nenhuma data mais específica para a sua execução.

Texto: (Rosário Carvalho) – IPPAR

Capela do Socorro - Foto cmviladoconde

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Capela de Nossa Senhora da Guia – Vila do Conde

Posted by mjfs em Fevereiro 2, 2009

 Capela N Sª da Guia - 1 - cmviladoconde

É muito provável que a capela de Nossa Senhora da Guia corresponda à ermida de São Julião, existente junto à foz do rio Ave, e referenciada na documentação do século XI, mais precisamente, no inventário dos bens pertencentes ao Mosteiro de Guimarães, com data de 1059. A sua edificação é, portanto, anterior à primeira metade do século XI, tendo incluído, posteriormente, um forte para assegurar a defesa da barra.

Não se sabe, ao certo, a época de construção da igreja que hoje conhecemos, mas tudo indica tratar-se de um imóvel Seiscentista, de arquitectura depurada, e que foi objecto de diversas campanhas de época barroca. Os azulejos da nave assim o indicam, pois o seu padrão de laçarias, identificado por Santos Simões, no seu corpus da azulejaria do século XVII, como P41, é próprio da primeira metade desta centúria, conhecendo-se outros exemplos da sua aplicação, datados de 1636.

A grande reestruturação, ou reedificação do templo deverá remontar, então, a este período, muito embora a depuração arquitectónica que se observa em todo o edifício dificulte cronologias mais precisas. A sua estrutura, com duas naves, e sacristia ao lado da capela-mor, pode denunciar, exactamente, as adaptações e reaproveitamentos de que o imóvel foi alvo. Por outro lado, a abóbada que cobre a capela-mor, não deixa de recordar a próxima capela do Socorro, edificada no início de Seiscentos. Já do século XVIII são os azulejos figurativos da capela-mor, de fabrico coimbrão.  Representam o Pentecostes e Nossa Senhora que, rodeada por anjos, protege um barco à deriva num mar revolto.

Não é possível determinar a ocorrência de mais do que uma campanha de obras, mas o corpo correspondente à sacristia deverá ser posterior ao da capela-mor, pois a parede Norte foi demolida, não apresentando os azulejos de padrão que originalmente teria possuído. Por seu turno, estas alterações estão presentes, também, no “(…) beiral de pedra, que hoje está dentro da sacristia, mas antes das obras deveria ter pertencido à parte exterior da capela, mostram que sofreu um grande aumento”.

Se as fachadas exteriores não apresentam elementos dignos de nota, o interior surpreende pela profusão de azulejos, talha e pintura, definindo um espaço claramente barroco. O tecto da nave é coberto por caixotões com pinturas de episódios bíblicos, e do lado do Evangelho encontra-se um púlpito com balaustrada de madeira. O arco triunfal, com duas colunas e arco de volta perfeita, integra-se numa composição de talha dourada sobre fundo branco, que engloba os altares colaterais.

Na capela-mor, o retábulo apresenta as mesmas tonalidades, mas é mais tardio, pois a sua linguagem depurada aproxima-se já do neoclássico.

Por fim, o enquadramento envolvente foi alvo de beneficiações, em 1940, com a colocação da cruz no topo da escadaria de acesso a esta ermida, implantada junto ao rio.

Texto: (Rosário Carvalho) / IPPAR

 

Capela N Sª da Guia - 2 - cmviladoconde

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Capela de Santa Catarina – Vila do Conde

Posted by mjfs em Janeiro 30, 2009

“Do lado Norte da cidade, situada em terrenos arenosos”, a  pequena capela de Santa Catarina é uCapela Santa Catarina 1 - foto cmviladocondem templo baixo-medieval ligado às populações piscatórias da zona. A sua história revela um passado de devoção sob a forma de romaria, efectuada ainda hoje a cada 25 de Novembro.

A arquitectura da capela reforça o carácter de edifício-destino de uma importante romaria. Com efeito, estamos diante de um templo de proporções singelas e sem importantes rasgos arquitectónicos ou estilísticos, dotado de alpendre lateral para albergar os romeiros e demais devotos, com um interior resumido aos espaços essenciais de celebração e de assistência.

A fachada principal é bastante simples, de pano único organizado em dois registos, abrindo-se inferiormente o portal, de arco apontado sem arquivoltas ou colunas, e superiormente, uma pequena fresta rectangular. A empena é triangular, truncada por pequena sineira de arco único assente em plataforma horizontal de leve cornijamento. Do lado Sul, em plano ligeiramente inclinado, acompanhando o declive do terreno, existe um alpendre, de telhado de água única prolongando o do corpo do templo e assente em quatro pilares de arestas chanfradas, estando as extremidades poente e nascente fechadas por muretes.

O interior é de planta longitudinal articulando dois espaços, o da nave e o da capela-mor, a que se associa, do lado Norte, uma pequena sacristia. O acesso é feito pelas portas poente e meridional da nave e, para além da relativa profundidade da capela-mor, cujas dimensões são praticamente idênticas às da nave, sobressaem três retábulos de talha: dois deles neoclássicos e localizados no corpo, e o último, barroco, provavelmente da segunda metade do século XVII, composto por quatro arquivoltas (a interior e a terceira assentes em colunas salomónicas) que ladeiam uma ampla tribuna dotada de trono onde se exibe a imagem do orago.

Capela Santa Catarina 2 - foto cmviladoconde

Apesar das escassas referências históricas acerca da capela, é possível estabelecer a sua construção pelos finais do século XV, uma vez que já é mencionada em 1518, num fólio do Tombo Verde do Mosteiro de Santa Clara. A confirmar-se esta cronologia relativa, estamos perante mais um exemplo da multiplicidade de edificações devocionais verificada no final da Idade Média, em particular as pequenas ermidas de romaria, localizadas em pontos chave da paisagem, e por isso mesmo exercendo um poderoso fascínio sobre as populações. As características arquitectónicas do monumento, ainda que sumárias, integram-se bem nesse lapso temporal e nas mais modestas edificações, em particular no Norte e Interior do país.

Mas se a data de edificação se pode genericamente estabelecer, pouco ou nada sabemos acerca do contexto sócio-económico que presidiu à sua edificação ou do próprio entorno urbanístico original. De 1578 é uma determinação municipal para se desafogar o edifício, o que sugere a existência de um aglomerado urbano anexo, a ponto de prejudicar a própria envolvência da capela. Mas pouco mais podemos adiantar.

Outro tema que nos é difícil abordar é a própria função da capela para além de pólo de romaria. Em 1721, as Memórias Paroquiais referem a existência de uma sepultura de clérigo no pavimento, facto que sugere uma função funerária, em particular ao longo da época moderna, altura em que grande parte dos interiores de edifícios religiosos foram cemitério privilegiado. Mas tal informação carece ainda de confirmação e a investigação arqueológica nunca foi aqui desenvolvida, pelo que esta é apenas mais uma hipótese de trabalho.

Restaurada parcialmente em 1992, numa campanha que privilegiou os elementos estruturais e exteriores, é necessário proceder-se a uma intervenção de restauro de património integrado, que permita travar a ruína das obras de talha.

Texto: PAF / IPPAR

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Igreja de São Francisco de Azurara – Vila do Conde

Posted by mjfs em Janeiro 24, 2009

Igreja S Francisco de Azurara - foto cmviladoconde 

As origens do convento de São Francisco de Azurara permanecem, ainda hoje, por esclarecer, não sendo possível confirmar a tradição sobre a eventual permanência nesta localidade dos templários, no local onde depois se ergueu o convento dos Capuchos. Certo é que esta instituição conventual existia já em 1518, mantendo-se como Casa de Noviços até 1588. Nesse ano, a ruína em que se encontrava levou à transferência dos noviços para São Frutuoso, em Braga, onde permaneceram até 1677. De facto, não sabemos como eram as primitivas instalações, que foram objecto de uma reedificação, iniciada em 1591.

As obras no convento prolongaram-se durante várias décadas e, em 1674, há notícia da demolição da igreja. As suas obras ficaram concluídas, apenas, entre 1750 e 1755, anos em que foram terminados o coro e a fachada, e colocadas as imagens nos respectivos nichos. O templo é antecedido por uma galilé, formada por três arcos de volta perfeita (de maiores dimensões o central) a que se sobrepõem dois nichos e, ao centro, uma janela para iluminação do coro alto. Entre o arco e esta última, encontra-se, em local de grande evidência, o brasão da Ordem. Remata o frontispício um frontão contracurvado, cujo nicho aberto ao centro do tímpano exibe a imagem de Nossa Senhora dos Anjos, a quem o templo foi dedicado. O corpo lateral corresponde ao acesso da sacristia, apresentando uma torre sineira de duplo sino, como remate. Será este o sino aí colocado em 1731, ano em que se procedeu à execução do próprio campanário, uma vez que o novo não cabia no espaço do antigo, cita documento do Cartório do Convento, do Arquivo Distrital do Porto).

No interior, o templo desenvolve-se em nave única com capela-mor rectangular. Apresenta dois púlpitos de talha dourada e, no coro alto, o cadeiral com três dezenas de lugares foi acrescentado em 1755. O altar-mor, também de talha dourada, exibe a imagem da invocação do templo, na tribuna (executada pelo entalhador João Correia da Silva), ladeada pelas de São João e de Santa Ana.

No corpo da igreja situam-se os altares de São Francisco e Santo António, com as respectivas imagens dos santos franciscanos. Contudo, a capela de maior importância é a de São Donato, mártir de grande devoção por parte dos mareantes, e cujo corpo, “inteiro e incorrupto”, foi trazido de Roma por Frei Francisco de Azurara, e depoistado nesta igreja a 28 de Abril de 1757. A capela, erguida a expensas do referido frade, ficou concluída em 1760, conforme se pode ler em duas inscrições existentes neste espaço.

Com a extinção das ordens religiosas, o convento de Azurara foi vendido a José Monteiro da Silva, natural de Vila do Conde que, mais tarde duou o imóvel a Ezequiel Carneiro Pizarro Monteiro, família na qual o convento se manteve até 1930, ano em foi novamente vendido. Actualmente e, desde 1990, é propriedade da Ordem Terceira de São Francisco de Azurara.

 

Texto: (Rosário Carvalho) /  IPPAR

Igreja S Francisco de Azurara 1 - foto cmviladoconde

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Igreja de Santa Clara (Largo do Monte) – Vila do Conde

Posted by mjfs em Janeiro 18, 2009

Igreja Santa Clara - Vila do Conde - Paulo Almeida Fernandes - 2006 - IPPAR - 1

Mandado edificar em 1318 por D. Afonso Sanches (filho bastardo de D. Dinis) e sua mulher, D. Teresa de Menezes, o Convento de Santa Clara é um templo fundamental do Gótico português a Norte do Douro, não obstante as numerosas alterações a que foi sujeito ao longo dos séculos. O conjunto monumental domina o centro histórico da vila – edificando-se no local onde se pensa ter existido o castelo dos Condes de Cantanhede, senhores do burgo, com a igreja a ser secundarizada pelo majestoso corpo sul neoclássico, construído em 1777 pelo arquitecto Henrique Ventura Lobo, um dos mais importantes nomes do chamado ciclo neoclássico portuense.

Logo em 1319 os fundadores doaram o espaço às clarissas, tendo sido este braço feminino dos franciscanos o responsável pela construção do complexo, um processo que conferiu à igreja a configuração que ainda mantém e que significou um exemplo pioneiro de implantação mendicante na região, a par das conturbadas histórias de S. Francisco do Porto e de S. Domingos de Guimarães. A austeridade e monumentalidade exteriores lembram, em parte, os primeiros exemplos de arquitectura mendicante clarissa do país, especialmente a fachada ocidental, onde o único elemento é a rosácea radiante, inscrita num enorme muro compacto, delimitado por dois contrafortes. A organização interna, no entanto, difere substancialmente. Enquanto que, por exemplo, no Convento de Santa Clara de Santarém a construção clarissa marca o triunfo do discurso mendicante numa cidade fortemente urbanizada, explicando-se por isso o longuíssimo corpo de três naves, a de Vila do Conde apresenta somente uma nave, de tal forma pequena que a construção do coro ocidental (verificada na época moderna) provoca uma sensação de planta em cruz grega interna.

A cabeceira e a sua implantação num terreno irregular é outro aspecto interessante da igreja. Exteriormente, apresenta-se como uma fortaleza, com as janelas muito altas e a estrutura coroada por ameias, sugestão reforçada pela existência de poderosos contrafortes, que ajudam a vencer o desnível do terreno. Interiormente, porém, a rigidez formal é assumida de forma proporcional, com os absidíolos bastante mais baixos que a capela-mor.

A marcha das obras góticas do Convento revelou-se bastante demorada, não estando o conjunto terminado em 1354, altura em que D. Afonso Sanches pede ao seu filho, por testamento, que as conclua. Deste último período é o que resta da Sala do Capítulo, organizada de forma tripartida, como era usual, com porta axial ladeada por duas janelas (aqui tratadas de forma idêntica, com finos colunelos e pequenos capitéis vegetalistas que provam a sua tardia cronologia) e alçado coroado de ameias.

Muitas foram as alterações que se efectuaram no conjunto ao longo dos séculos seguintes. A mais importante verificou-se nos primeiros anos do século XVI, sob o impulso das abadesas D. Isabel de Castro e D. Catarina de Lima. A elas se deve a construção da capela dos fundadores, aberta por arco apontado de moldura inferior cairelada, e coberta por abóbada polinervada estrelada. No seu interior, as abadessas mandaram colocar os túmulos dos fundadores, refeitos para o efeito, de acordo com a estética do tempo manuelino. Dotados de jacentes ainda plenamente medievais, com D. Afonso a segurar a espada e com um leão aos pés e D. Teresa vestindo o hábito de clarissa, são das mais impressionantes obras de tumulária manuelina, saídas da oficina de Diogo Pires-o-Moço.

Outros enterramentos existem neste convento, que evidenciam a deliberada procura de alguns poderosos nomes da sociedade baixo-medieval por instituições mendicantes. De c. 1415 é o túmulo de D. Brites, decorado com motivos heráldicos, e da década de 40 de Quatrocentos é o moimento duplo dos Condes de Cantanhede, D. Fernando de Meneses e sua mulher, D. Brites de Andrade, obra claramente filiada no modelo inaugurado por D. João I e D. Filipa de Lencastre na Batalha.

Fonte: PAF / IPPAR

Igreja Santa Clara - Vila do Conde - Paulo Almeida Fernandes - 2006 - IPPAR - 2

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