Vista geral das antigas instalações da Misericórdia de Albufeira, incluindo a capela
As instalações da Misericórdia de Albufeira constituem uma das mais antigas parcelas do centro histórico da cidade e localizam-se dentro do velho perímetro fortificado, implantando-se junto da mais importante porta (a da Praça, ou do Ocidente) e ocupando parte da alcáçova islâmica. Estes vestígios do sistema defensivo muçulmano desapareceram nos anos 60 do século XX, quando se construiu o Hotel Sol e Mar, mas tal campanha não destruiu o complexo da Misericórdia, que ainda hoje se mantém.
A instituição, fundada em 1499, desde cedo contou com importantes instalações, o que revela o grau de implantação e de aceitação na própria cidade. Ainda hoje é possível perceber que, delimitada pela muralha que se desenvolve desde a antiga Porta da Praça até à Porta do Mar (virada a Norte, hoje na confluência da Rua do Cemitério Velho), existe um quarteirão que foi praticamente todo ocupado pela Misericórdia local e que corresponde à face NO. da Rua Henrique Calado. Nesse quarteirão, funcionou a Capela, o Hospital e uma Hospedaria, assim como o edifício-sede e numerosas outras dependências de apoio às diversas actividades da instituição.
A capela é parte mais importante do conjunto e, simultaneamente, a mais antiga. Crê-se que seria mesquita de uso exclusivo da alcáçova e do paço dos governadores, posteriormente convertida em igreja cristã e, finalmente, em capela da Misericórdia. Este percurso funcional não está arqueologicamente provado, mas dada a localização do templo é natural que assim tivesse acontecido, embora nos faltem dados de caracterização sobre os séculos XIII e XIV. A fachada principal é de pano único e passaria despercebida entre o casario não fosse o seu portal manuelino e a empena triangular da frontaria. Aquele é de arco apontado, mas possui moldura inferior decorada com ligeiro encordoado que, descarregando sobre capitéis de decoração vegetalista, finos colunelos adossados à caixa murária e bases embebidas de secção multifacetada, prova o seu carácter manuelino, ainda que relativamente modesto.
O interior é de nave única, e apenas a capela-mor evidencia a fase manuelina, sendo coberta por abóbada de cruzaria de ogivas, com bocete ornamentado pela cruz da Ordem de Avis, sintoma provável de algum dinheiro real empregue na obra. O arco triunfal é abatido, mas possui ainda duas colunas torsas que descarregam sobre bases oitavadas, elementos artísticos que provam a sua feitura durante o ciclo manuelino. No corpo do templo, coberto por tecto de madeira, pode ainda observar-se um coro-alto barroco que se adossa à fachada principal.
Da capela-mor pode aceder-se à Sacristia e à antiga Casa do Despacho, esta última um espaço rectangular que, na origem, deveria ter um segundo acesso sem ser pelo interior da capela. A Hospedaria é um edifício de planta rectangular, disposto ao longo da via pública e tem como principal atractivo o seu portal, de arco apontado, muito simples e que, se não for contemporâneo do portal principal da capela, deverá ser o reaproveitamento de uma mais antiga habitação.
Compreensivelmente, o hospital ocupa a maior parte das antigas instalações. A primeira referência documental que se conhece data de 1571, mas parece relacionar-se com uma pequena casa de acolhimento, uma vez que, séculos mais tarde, em 1758, refere-se expressamente que o hospital é composto por uma só casa, "em que se acolhem os pobres passageiros, mas não a curar-se". O edifício que chegou até hoje data genericamente do final do século XIX. Em 1880, a Santa Casa dirigiu uma petição à Câmara dos Deputados para alargamento das instalações, o que foi favoravelmente respondido três anos depois, tendo-se iniciado as obras em 1885, sob o comando do empreiteiro José Francisco do Nascimento. Inaugurado em 1904, dele fazem parte duas enfermarias, em dois andares, e integra a Torre do Relógio, estrutura que aproveitou uma das antigas torres defensivas da islâmica Porta da Praça.
Vista parcial do antigo acesso à Porta da Praça e da Torre do Relógio, actualmente integrada no Hospital