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Monte do Castelo – Área do Castelo de Gaia – Porto

Posted by mjfs em Março 23, 2009

 Monte Castelo

Em termos arqueológicos, Vila Nova de Gaia cedo mereceu o interesse de curiosos e estudiosos, num contexto oitocentista assaz propício à realização de escavações, em pleno despertar europeu para a jovem ciência arqueológica, que teve de igual modo entre nós uma expressão bastante promissora. Desde José Leite de Vasconcellos (1858-1941), passando por António Augusto Esteves Mendes Corrêa (1888-?) até Ricardo Severo da Fonseca e Costa (1869-1940), foram vários os nomes de todos quantos se dedicaram à investigação arqueológica da cidade e seu concelho desde finais do século XIX até ao apogeu do Estado Novo, quando se observou um certo declínio nos estudos entretanto realizados neste âmbito tão específico da cultura portuguesa, em grande parte decorrente da ausência do necessário investimento estatal ao seu incremento generalizado. Esta situação seria, contudo, ultrapassada, assistindo-se a um visível e amplo desenvolvimento da investigação arqueológica conduzida ao longo das últimas três décadas, durante as quais se tem vindo a conceder uma atenção muito especial aos vestígios medievos da cidade de Vila Nova de Gaia, e, mais propriamente, a toda a área ocupada pelo “Castelo de Gaia”.

A referência mais antiga de que há conhecimento sobre o “Castelo” remonta a meados do século XVI e é da lavra do conhecido cronista João de Barros (1496-1570), para quem He tão antigo que dizem o fundou Caio Julio Cesar e dahi tomou o nome, uma tradição, aliás, retomada dois séculos depois, quando se referiu serem os muros do “Castelo” fabrica do tempo, e uso Romano. Na verdade, estas alusões não deverão surpreender, pois ilustram bem o contexto cultural vivido nas duas centúrias, mesmo com duzentos anos a separá-las: enquanto a Era de quinhentos revivia a Antiguidade Clássica através do seu Renascimento, setecentos deslumbrava-se com a descoberta de sítios tão paradigmáticos da cultura ocidental, como Pompeia, Herculano e Estábia, enquanto se embrenhava no movimento Neoclássico.

Entretanto, e apesar de as estruturas se encontrarem bastante derrubadas e os materiais fragmentados e misturados, as escavações realizadas na “Área do Castelo de Gaia” (sobretudo a partir de 1983, sob orientação de Armando Coelho Ferreira da Silva) permitiram, por um lado, confirmar a sua ocupação durante o período romano e, por outro, relançar a velha questão da localização de Cale e de um dos dois Portucale. Além disso, as investigações trouxeram à luz do dia vestígios (nomeadamente de cerâmica mamilar) daquele que terá sido um povoado fortificado do Bronze Final (embora alguns materiais pareçam indiciar uma anterior presença humana durante o Calcolítico , com reutilizações datáveis do século I d. C. e Baixo Império Romano, confirmadas, ademais, pela identificação de vários troços de uma monumental muralha romana e recolha de uma vasta série de fragmentos cerâmicos, sem que surgissem, contudo, os elementos identificadores de um castelo medieval no seu perímetro.

Foram, no entanto, encontradas determinadas estruturas pétreas (algumas em negativo) e elementos cerâmicos cronologicamente atribuíveis à Alta Idade Média, Idade Média e Baixa Idade Média  embora a grande concentração de materiais pareça apontar para uma presença humana mais constante no local entre os séculos V e VII. Mas, quanto ao castelo medieval, propriamente dito, não será de afastar a hipótese de as suas estruturas terem sido destruídas pela população durante a crise de 1383-1385, como registou o cronista-mor do reino, Fernão Lopes (1380 ?-1460?), na sua Crónica de D. João I.

Estamos, pois, em presença de uma sobreposição de níveis ocupacionais com reutilização de materiais, a atestar, no fundo, a importância estratégica do local.

Texto: A Martins / IPPAR

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