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Elevador dos Guindais – Porto

Posted by mjfs em Maio 31, 2008

 

Elevador dos Guindais - Foto Pedromg94

Elevador dos Guindais - Foto Portvscalem

Elevador dos Guindais - Foto Ana

 


Construído em 1891, funicular que liga a Ribeira à Batalha ao longo de 281 metros, 90 dos quais em percurso subterrâneo. Esteve desactivado durante muito tempo na sequência de um acidente, tendo sido recuperado e reactivado a 19 de Fevereiro de 2004, quer para meio de transporte, como para fins turísticos. Oferece uma vista única sobre o rio Douro, ponte D. Luís I e para a Serra do Pilar.


HISTÓRIA DO ANTIGO – ELEVADOR DOS GUINDAIS

3 de Junho de 1891: Inauguração do Elevador dos Guindais.

Quando a Câmara do Porto apresentou o processo de candidatura da cidade à classificação, pela UNESCO, como Património Cultural da Humanidade, um dos imóveis do Centro Histórico indicado como sendo de interesse patrimonial, foi a “Casa do Ascensor dos Guindais”, localizada, como o próprio nome deixa adivinhar, nas Escadas daquela denominação: ascensor ? Mas, houve um elevador (vamos chamar-lhe assim) nos Guindais? Claro que houve e foi extremamente útil enquanto funcionou mas, infelizmente, teve uma vida efémera, porque acabou de forma desastrosa.

1) UMA CIDADE DE ALTOS E BAIXOS

O Porto, especialmente o seu núcleo mais antigo ou, se pretenderem, para estar mais a par com a actualidade, o seu chamado Centro Histórico, está assente em terreno bastante declivoso. A zona da Sé e a da Vitória, dois dos mais antigos aglomerados populacionais do Porto, foram crescendo e desenvolveram-se sobre duas colinas que em tempos idos tinham de permeio um curso de água, o nosso já conhecido rio da Vila que foi tapado quando se abriu a actual Rua de Mousinho da Silveira. Na época em que ainda não havia transportes públicos e os privados eram privilégio de meia dúzia de bafejados da sorte, as características acidentadas do Porto tomavam difícil, por exemplo, o acesso das zonas ribeirinhas aos pontos mais elevados da cidade. Por isso, ninguém estranhou quando, há pouco mais de cem anos, se constituiu nesta cidade a Parceria dos Elevadores do Porto, uma sociedade que se propunha construir e explorar elevadores que haviam de ligar as zonas baixas da beira rio (mas não apenas) aos pontos mais elevados da cidade, que foram desde sempre as áreas de maior densidade populacional. A ideia era inovadora e, do ponto de vista da rentabilidade, muito oportuna. O rio constituía, por assim dizer, a espinha dorsal do desenvolvimento citadino. Era através dele que chegavam à cidade os vinhos de Riba Douro mas também muitos outros produtos, nomeadamente hortaliças e frutas destinadas ao abastecimento público. O meio de transporte mais em voga, por essa altura, era o carro de bois que se utilizava, em regra, para o transporte dos carretos mais pesados. As coisas mais leves, e entre estas contavam-se os frutos e as novidades da horta, eram carregados pelas próprias pessoas, às costas, e assim transportados para os pontos mais altos da urbe, o que não devia ser ” uma pêra doce…” O elevador era, portanto, uma novidade e, como, além dos passageiros, podia transportar também mercadorias e toda a sorte de embrulhos, foi com grande expectativa que o Porto assistiu à constituição da tal Parceria por se pensar, justificadamente, aliás, que os elevadores representariam uma fonte de progresso para a cidade. O primeiro projecto da empresa foi a construção, de um elevador que, subindo ao lado das escadas dos Guindais, junto das muralhas fernandinas, ligaria a beira rio à então chamada Rua da Batalha (actualmente denominada de Augusto Rosa) com o fim da carreira mais ou manos em frente ao edifício onde está hoje a sede do Governo Civil.

2) O MODO DE FUNCIONAR

A elaboração do projecto do elevador foi confiada ao engenheiro Raul Mesnier e a construção da obra ficou a cargo do mestre Adélio Couto que deu por finda a empreitada nos começos de Junho de 1891, o ano da Revolução Republicana do 31 de Janeiro. A inauguração solene do importante melhoramento ocorreu exactamente no dia 3 de Junho daquele ano e constituiu acontecimento de peso no quotidiano da cidade. Os portuenses acorreram em peso para assistirem ao acto solene e aderiram de imediato ao novo meio de transporte que desde o dia da inauguração até aquele em que, por força das circunstâncias, teve que interromper a sua laboração, registou sempre uma crescente movimentação de utentes. O elevador funcionava ininterruptamente, num constante vaivém, para cima e para baixo, desde as 5 horas da manhã até às 11 da noite. Os preços das passagens estavam compreendidos entre os 30 e os 60 reis. Era permitido, como já se disse, o transporte de embrulhos, cestas, canastras, fardos e outros volumes.

O funcionamento do elevador fazia-se através de máquinas a vapor, instaladas nas já referidas “Casas do Ascensor” que também eram servidas por uma chaminé com 30 metros de altura, através da qual se expelia o fumo das caldeiras. A tracção fazia-se por meio de grossos cabos de arame que se moviam por aderência sobre os tambores das máquinas que formavam dois grupos trabalhando um de cada vez. O trajecto, em plano horizontal, tinha 412 metros de comprimento. Havia um percurso plano, entre o cimo das Escadas dos Guindais, e o final da linha; e outro de forte inclinação, ao longo de toda a escarpa dos Guindais até à beira-rio. Nesta parte do percurso o elevador funcionava com dois carros. Um, chamado o principal, de maior capacidade; o outro, o secundário, era o carro do contrapeso e tinha como função equilibrar o primeiro ao qual estava ligado por um cabo de aço. Os carros moviam-se, ambos, em carris paralelos, no sistema de compensação, cruzando-se exactamente a meio do trajecto e atingindo os extremos opostos em simultâneo. Os dois carros dispunham de um eficiente sistema de freios, em forma de tenaz, um para redução da velocidade, o outro para uma travagem imediata. Para uma maior segurança havia ainda um sistema de sinais dados por duas campainhas, que a cinco e, a um metro do final da viagem, alentavam o maquinista para que ele começasse a reduzir a velocidade.

Segundo pareceres técnicos da época, a construção do elevador e o seu funcionamento obedeciam a todos os requisitos de segurança e comodidade dos passageiros. Dispunha, inclusivamente, de um dispositivo que tornava possível graduar-se a inclinação por meio de uma espécie de parafuso, tarefa de que se desempenhava um operário nisso especializado.

3) O DESASTRE

Durante dois anos o Elevador dos Guindais dera provas evidentes de ser um excelente e cómodo meio de transporte e a maneira mais fácil de vencer o declive que existia entre a zona ribeirinha e a parte mais alta da cidade. E foi por isso que o público aderiu completamente ao projecto utilizando o “funicular” com muita assiduidade e com total confiança. Mas no dia 5 de Junho de 1893 um desastre, que podia ter atingido bem mais amplas proporções do que aquelas a que realmente se reduziu, pôs termo à carreira do Elevador dos Guindais e inviabilizou os projectos que havia para outros pontos da cidade.

Um inquérito mandado elaborar para apuramento das responsabilidades, revelou que um erro humano estivera na base do acidente. O maquinista António Dias de Oliveira, que tripulava um dos carros, não abrandou, como se impunha, a marcha do veículo, o principal, que, rodando a grande velocidade, foi embater violentamente contra o respectivo suporte que era uma mola de aço em forma de U. Do embate resultou quebrar-se o cabo de ligação entre os dois carros e o do contrapeso começou por deslizar lentamente para atingir uma velocidade louca indo desfazer-se contra uma plataforma junto ao tabuleiro inferior da ponte Luís I. Passavam cerca de quinze minutos das dezasseis horas quando ocorreu o acidente. Nos dois carros viajavam, naquela altura, apenas 8 pessoas. No carro principal, além do condutor, seguia a sua mulher, Deolinda Silva e mais três pessoas. No veículo que subia seguiam o respectivo condutor, António Martins, mais Alfredo Lopes da Costa Braga e uma filha deste, de apenas seis anos de idade. Milagrosamente apenas alguns deles sofreram ligeiras escoriações. Mas o acidente alarmou a cidade e, as primeiras noticias chegadas à Batalha, falavam de mortos e muitos feridos.

Não obstante os grandes prejuízos materiais sofridos a Parceria dos Elevadores do Porto anunciou a suspensão da actividade por apenas dois meses, que seria o tempo necessário para efectuar as reparações e recomeçar as actividades. Mas o Elevador dos Guindais nunca mais voltou a funcionar e com ele morreram, também, os outros projectos. Dessa velha relíquia tripeira resta hoje, de pé, a casa das máquinas.

Fonte: Diario do  Porto


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